segunda-feira, 21 de julho de 2014

Quando já não é possível distinguir a cara dos homens da dos porcos...

O Triunfo dos Porcos

Um grupo de animais revolta-se numa quinta governada pelos humanos e funda o Animalismo, uma corrente ideológica que, como tantas outras, começa como uma grande ideia cheia de nobres valores e intenções a acaba por servir como meio de favorecer os mais fortes, violando todos os princípios a que se tinha proposto. Vemos assim o medo e a opressão triunfarem sobre a inteligência e o bom senso, a quantidade de cerimoniais ridículos ligados a todos os regimes totalitaristas, a ignorância como modo de manipulação das massas e a indiferença por parte de quem poderia fazer a diferença entre uma quantidade de outros episódios, todos perfeitamente identificáveis com regimes por nós conhecidos.


Publicada em 1945, a obra O triunfo dos Porcosrevela uma aversão a toda espécie de autoritarismo, seja ele familiar, comunitário, estatal, capitalista ou comunista. Foi imediatamente interpretada como uma fábula satírica sobre os descaminhos da Revolução Russa, chegando a ter sido utilizada pela propaganda anticomunista. A novela de George Orwell de facto faz uma dura crítica ao totalitarismo soviético; mas seu sentido transcende amplamente o contexto do regime stalinista e as suas lições são mais atuais que nunca, pois a concentração de poder, a manipulação das informações e as desigualdades são cada vez mais graves.


Como lembra o aforismo do final da obra (Todos os animais são iguais, mas alguns animais são mais iguais que os outros), que se torna o único mandamento da Quinta dos Animais, a ilusão revolucionária é breve, e o poder absoluto corrompe aqueles que o exercem.

Embora Orwell tenha buscado mostrar uma época específica, sua obra pode - e deve - ser vista como uma alegoria a qualquer revolução em que os mais fracos tomam o poder e, em seguida, são por ele corrompidos.

Enredo

Romance de George Orwell, cujo título original é Animal Farm, publicado em 1945. A história relata a revolução dos animais da quinta Manor, propriedade do senhor Jones.
O Velho Major, o mais respeitado porco, reúne, durante a noite, todos os animais da quinta e conta-lhes um sonho que tivera - a sua morte estava para breve e compreendia, então, o valor da vida. Explica logo aos companheiros que devem a sua miserável existência à tirania dos homens que, preguiçosos e incompetentes, usufruem do trabalho dos animais, vítimas de uma exploração prepotente. O Velho Major incita o grupo não só à rebelião, para derrotar o inimigo, como também a entoar o cântico de revolta "Animais de Inglaterra".
Três dias depois, morre o Velho Major. Mas a revolução prossegue, com novos líderes - os porcos Snowball, Napoleão e Squealer, que criam o Animalismo, como sistema doutrinário, com "Os Sete Mandamentos". Expulsam o dono da quinta e mudam o nome da propriedade para "Quinta dos Animais". Dada a estupidez e a limitação de alguns, que não conseguem decorar os "Mandamentos", Snowball reduziu-os a uma máxima: "Quatro pernas, bom; duas pernas, mau".
O regime do Animalismo começa logo de forma vigorosa, com todos os animais a trabalharem, de forma a fazerem progredir a quinta – a auto-gestão estimulava o orgulho animal. Snowball cria uma lista de comissões para conceber programas de desenvolvimento social, educação e formação.
Com o passar do tempo, os porcos tornam-se corruptos pelo poder. Instala-se então uma nova tirania, sob o comando de Napoleão, que passa a impor um novo princípio: "Todos os animais são iguais, mas alguns são mais iguais do que outros".
Numa demonstração do seu sucesso político-social, os porcos convidam, para um jantar, os donos das propriedades vizinhas, a fim de que estes se apercebam da eficiência da "Quinta dos Animais". E são felicitados pelo sucesso do seu regime. Nessa altura, o cavalo Clover constata, horrorizado, que já não é possível distinguir a cara dos porcos da dos homens.

Excertos da obra: 


“Agora já não mencionavam Napoleão como "Napoleão" simplesmente. Referiam-se a ele de maneira  formal, como "nosso Líder, o Camarada Napoleão", e os porcos gostavam de inventar para ele títulos tais como Pai de Todos os Bichos, Terror da Humanidade, Protetor dos Apriscos, Amigo dos Pintainhos e assim por diante.”


“Houve um silêncio mortal. Surpresos, aterrorizados, uns junto aos outros, os bichos olhavam a fila de porcos marchar lentamente em redor do pátio. Pareceu-lhes enxergar o mundo de cabeça para baixo. Então veio um momento em que, passado o choque e a despeito de tudo - a despeito do terror dos cachorros e do hábito, arraigado após tantos anos, de nunca se queixarem, nunca criticarem, pouco importava o que sucedesse -, poderiam lançar uma palavra de protesto. Porém, exatamente nesse instante, como se obedecessem a um sinal combinado, as ovelhas, em uníssono, estrondaram num espetacular balido:
- Quatro pernas bom, duas pernas melhor! Quatro pernas bom, duas pernas melhor! Quatro pernas bom, duas pernas melhor!
Baliram durante cinco minutos sem cessar. E, quando se calaram, fora-se a oportunidade da palavra de protesto, pois os porcos já haviam voltado para dentro da casa.”



“Benjamim sentiu um focinho esfregar-lhe o ombro. Era Quitéria. Seus olhos pareciam mais encobertos que nunca. Sem dizer palavra, ela o puxou delicadamente pela crina, levando-o até o fundo do grande celeiro, onde estavam escritos os Sete Mandamentos. Durante um ou dois minutos ficaram olhando a parede alcatroada com o grande letreiro branco.
Minha vista está falhando - disse ela finalmente. - Mesmo quando eu era moça não conseguia ler o que estava escrito aí. Mas parece-me agora que parede está meio diferente. Os Sete Mandamentos são os mesmos de sempre, Benjamim?
Pela primeira vez, Benjamim consentiu em quebrar sua norma, e leu para ela o que estava escrito na parede. Nada havia, agora, senão um único Mandamento dizendo:

TODOS OS ANIMAIS SÃO IGUAIS
MAS ALGUNS ANIMAIS SÃO MAIS IGUAIS DO QUE OS OUTROS”


Lê aqui a obra completa:


Plano Nacional de Leitura
Livro recomendado no programa de português do 9º ano de escolaridade, destinado a leitura orientada na sala de aula - Grau de Dificuldade II.